terça-feira, 17 de julho de 2012

INDIGNAÇÃO


Em dezembro de 2005 escrevi esta coluna para uma revista paulista quando morava em Sampa, abordando e defendendo uma legislação mais dura e firme para com os crimes políticos, com o mesmo rigor da legislação aplicada a crimes hediondos. Relendo o texto quase 7 anos depois, reafirmo e ratifico minha linha de pensamento quanto a esta questão, mesmo sabendo que trata-se de algo utópico, pois esperar altruísmo da classe política é uma tremenda viagem na maionese.
Independente disso, reproduzo abaixo o texto que publiquei em dezembro de 2005 e que para mim está vivíssimo e atual.
Assinei a coluna CENÁRIOS ECONÔMICOS por mais de 4 anos e a convite do editor da revista, estarei escrevendo novamente a partir de julho.

CENÁRIOS ECONÔMICOS
Nacélio Maia

A CORRUPÇÃO E O CRIME HEDIONDO
(Qualquer semelhança não é mera coincidência)

É sabido que a corrupção não é um problema somente do Brasil, mas permeia o mundo inteiro, porém no nosso País, endemicamente, a sua ação ganhou elevado requinte de criatividade, transformou-se em prioridade e ganhou uma dimensão estratosférica.
Não podemos precisar, mas seguramente o dinheiro desviado pelas vias da corrupção representa um orçamento gigantesco, superior ao de qualquer dos ministérios, portanto cifras que seguramente poderiam proporcionar importantes avanços na qualidade de vida de um enorme contingente de cidadãos do nosso País.
Dentre as causas deste problema visceral, podemos apontar como principal vilão a impunidade e a leveza da nossa legislação.
Os corruptos e corruptores das diversas esferas do poder, seja público ou privado, deitam e rolam, exatamente porque sabem que a justiça brasileira não os alcança. Quando muito, os obriga a gastar uma pequena parte do dinheiro que surrupiaram, com advogados, que a rigor é café pequeno quando comparado aos milhões roubados, portanto baseiam as suas ações na tese de que o fim justifica os meios e também na certeza de que o crime compensa. Uma lógica imoral, hediondamente criminosa e perversamente covarde.
E então entram em cena algumas questões infantilmente lógicas, que poderiam ser utilizadas para atacar o problema de forma frontal e eficaz, porém o corporativismo, especialmente da classe política, impede que avancemos em leis mais rigorosas de combate ostensivo ao grande mal do nosso Brasil.
Vejamos: Porque que os políticos cassados podem voltar após dois mandados afastados? Porque após a cassação nada mais acontece e fica tudo por isso mesmo? Porque o benefício da renúncia para aqueles que seguramente voltarão na eleição seguinte? A renúncia nada mais é do que um reconhecimento de culpa, mas mesmo assim o cara vai a plenário e atenta contra a nossa inteligência dizendo abertamente: hasta la vista imbecis! I’ll be back! Só um intervalo para os comerciais e volto já! Que absurdo, que vergonha, que vexame. É a própria legalização do crime, a institucionalização da tramóia, a propaganda do delito que vale a pena.
Quanto aos corruptores, contra esses é que a legislação pega mais leve ainda e incoerentemente são aqueles que derivam do crime de corrupção outras espécies de delitos graves, como queima de arquivo, subornos milionários e assim vai caminhando o nosso Brasil, de crime em crime, de CPI em CPI, de impunidade em impunidade.
Sem usar de uma visão radical, pois sou contra radicalismos e extremismos, mas não seria o caso de encararmos a corrupção com a mesma ênfase dos crimes hediondos, pois quando milhares de crianças morrem em diversas regiões do País por conta de verbas que nunca chegam ou quando idosos também perecem ante a falta de recursos que são desviados pelas vias da corrupção, não estaria assim caracterizado o caráter hediondo destes crimes? Que nome se dá ao crime premeditado, arquitetado e planejado com todo requinte de frieza já sabendo as conseqüências nefastas que isso vai causar? Não poderíamos caracterizar a corrupção com um crime doloso?
Imaginemos se colocássemos neste elenco, todas as outras perdas provocadas pela ação criminosa daqueles que corrompem e os que se deixam corromper. A vasta lista não caberia nesta coluna. Isso não seria motivo mais do que suficiente para que uma nova legislação fosse imediatamente elaborada para o enfretamento desta gravíssima mazela?
Com certeza sim, mas o corporativismo de quem tem culpa no cartório, de quem tem o telhado de vidro e as mãos sujas, aliado a inércia e a falta de vontade política para bater de frente com o problema e assim minimizar expressivamente o seu impacto na sociedade, torna essa bandeira apenas um sonho na nossa mente, uma utopia e acreditar no altruísmo dos nossos políticos é o mesmo que acreditar em Papai Noel, no Saci Pererê, na cegonha e coisas do gênero. Ao menos dá para acreditar em Ali Babá, que com o passar dos anos se acompanhou não apenas de quarenta, mas de incontáveis gatunos que praticam a luz do dia as mais variadas atrocidades contra o cidadão comum, pobre mortal e que vive a mercê do nada, que se alimenta apenas de esperança e da crença de que um dia possa viver num País mais justo, política e socialmente correto e que trata com dignidade todos os seus filhos (todos).
Este País, o seu povo e a sua sociedade precisam avançar. Por favor, abram caminho

Um comentário:

  1. Você conseguiu descrever nesse texto todo o contexto político-econômico que já vivemos há algum tempo e que só agora (2013) está chamando, de fato, a atenção dos cidadãos brasileiros.....será que a mentalidade do povo mudou de 2007 pra cá? Porque a postura dos nossos reprsentates continuou a mesma..... Luana Nascimento

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