sexta-feira, 2 de outubro de 2015

RELIGIÃO x EVANGELHO
Religião demais e valores de menos.

Começando pelo resumo, é lamentável o conjunto de distorções produzidas pela religião e suas instituições em detrimento do evangelho genuíno, integral e inclusivo de Jesus.
O Brasil tem uma população em grande número dos ditos evangélicos, porém não se percebe qualquer mudança ou transformação desta sociedade quanto a questão dos valores que impactam diretamente na qualidade de vida das pessoas no que se refere, por exemplo aos nossos terríveis indicadores sociais, a violência desenfreada que permeia todo nosso país, ao nível estratosférico de corrupção que carcome a vida pública da nossa nação, etc.
Qual a explicação para este fenômeno de forte crescimento da população evangélica na contra mão do crescimento exponencial dos nossos graves problemas sociais? Que sal é esse que não salga? Que luz é essa que não clareia?
Penso que esta anomalia existe exatamente porque a religião tem prevalecido sobre a pureza do evangelho. Uma religião repleta de sacerdotes, que em muitos momentos parecem concorrer com Deus, como verdadeiros semideuses, exercendo a pulpitolatria, agregando valor a objetos e os transformando em mercadoria a ser negociada, embalada de fetiche, de magia e por consequência se transformando num produto atraente, vendido pelas indústrias da religião, numa lamentável exploração do negócio religioso que explora a boa fé dos seus fiéis, tratados como “clientes”.
É verdadeiramente uma disputa de mercado aquecida e profissional, que tem destorcido profundamente as boas novas genuínas do evangelho integral do lindo, doce, amoroso, gracioso e misericordioso Jesus Cristo de Nazaré.
A religião foi transformada num mercado, a fé foi mercantilizada e as empresas da religião faturam fortunas à custa da boa fé e da ingenuidade das pessoas que infelizmente pagam o preço, por acreditarem que ao pagá-lo todos os seus problemas estarão resolvidos, numa prática deplorável destes líderes que pregam o encurralamento de Deus no canto das paredes da troca.
A indústria do negócio religioso tem produzido uma comunidade de pessoas acomodadas ao discernimento de perceber que não é saudável confiar tão cegamente em homens que lideram estes interesses nefastos. Conforta-nos um pouco a certeza de que o nosso Deus revelado em Jesus olha o coração e muitos, desonestamente guiados pelos caminhos do negócio, buscam ao Senhor por fé, independente do modelo e da forma e mesmo conduzidos por caminhos tortuosos, são alvos do amor, da graça e das misericórdias de Cristo e assim recebem suas bênçãos apesar de tudo isso.
É inquestionável a importância da igreja local na caminhada, pois ela promove convivência, ensino, participação, inclusão, vida em comunidade, serviço, voluntariado, assistência social, etc., porém o modelo empregado nas grandes indústrias do negócio religioso, especialmente gestado pelos líderes do mundo neopentecostal, produz uma grande comunidade de desigrejados, pessoas frustradas com a religião, muitas delas também afastadas de Deus, por vezes por tê-lo buscado em empresas que exploram este grande mercado.
Este crescimento é estéril e inócuo. 42 milhões de evangélicos, cuja grande maioria está mais preocupada com templos do que com pessoas. 10% do nosso congresso é formado de políticos que se dizem evangélicos e são os que mais faltam, muitos com processos na justiça e o atual presidente da Câmara dos Deputados simboliza este fenômeno lamentável.
Tudo seria muito bom não fora as anomalias provocadas pelos excessos produzidos pela religião que robotiza as pessoas, mercantiliza a palavra e explora a boa fé a partir de homens egocêntricos, cheios de vaidade e sede pelo poder.
Não se trata de uma crítica direta as doutrinas ou até mesmo ao legalismo, mas a ação consciente e ao mesmo tempo mal intencionada dos profissionais da religião.
Então, Jesus aproximou-se deles e disse: "Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra.
Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos".
Mateus 28:18-20
O ide de Jesus significa a nossa vida exposta, imitando e refletindo Jesus neste mundo complicado, numa espécie de invasão às trevas, levando sal e luz, produzindo relacionamentos, fazendo amigos, promovendo uma grande integração que torna as pessoas como parte de nós, membros da nossa família, socializando nossos bens e se não os temos, socializando as dores e os sofrimentos do outro, construindo assim condições para o ensino de vida, à luz da vida dAquele que é o autor da vida.
Os estudos de Mircea Eliade acerca do fenômeno religioso, de Durkheim sobre as formas elementares da vida religiosa e de Bourdieu que expõe este mercado dos bens simbólicos da religião, refletem muito de tudo que vivemos neste mundo religioso distorcido e distante do Evangelho.

Para minha frustração, revelo a tristeza pela impotência de apontar caminhos, uma vez tratar-se de um mercado fortemente alicerçado em convicções equivocadas e assim prefiro o desejo de ser igreja fora das paredes do templo, preocupado muitíssimo mais com relevância do que com crescimento quantitativo destas organizações, convicto de que as pessoas são e sempre serão mais importantes do que as coisas.

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