FELICIDADE À LUZ DO EVANGELHO GENUÍNO –
Mateus 5, 1-16
(Bem aventurados,
muito felizes e abençoados os espiritualmente felizes).
No mundo em que vivemos o
conceito de felicidade está diretamente associado a poder, riqueza, posses,
fama, status social, numa imperiosa “tirania do ter”, que se agiganta frente à “beleza
do ser”. Não precisamos embarcar nesta “tirania da felicidade”, que nos
proporciona apenas momentos alegres, uma felicidade efêmera, circunstancial e
que nos torna dependentes essencialmente do “ter”, nos escravizando nas cadeias
da vaidade, das coisas superficiais, que insuflam o ego e apenas isso.
Temos como objetivos a busca
da realização material e pessoal, muitas vezes orientada por coisas boas,
desejáveis e justas como casar, ter filhos perfeitos, obedientes e estudiosos,
ter uma estrutura familiar organizada, concluir uma faculdade, conquistar um
lugar destacado no mercado de trabalho, etc.
Jesus quando fala de
felicidade não propõe que se excluam estas coisas e nem tampouco o riso, a
alegria, a celebração, os sonhos concretizados e nem os grandes e bons momentos
da vida.
Porém Jesus acrescenta e deixa
muito claro que Nele a felicidade cabe em qualquer circunstância ou contingência.
Podemos ser felizes tendo ou não tendo, pois Jesus como protagonista da
palavra, da história, da humanidade e da vida nos chama a uma consciência para
entendermos na plenitude o verdadeiro conceito de felicidade e nos ensina a
sermos felizes acima e apesar das circunstâncias da vida.
O evangelho não prioriza uma
definição de felicidade, mas sim de forma enfática apresenta um tipo de gente
que é feliz, a partir do entendimento de que não há felicidade fora do
encantador, lindo e doce Jesus Cristo de Nazaré.
O Sermão do Monte exposto no
evangelho de Mateus nos capítulos 5 a 7, provavelmente é a peça literária mais
importante das escrituras, pois é um ensino relevante para a vida, visto que além
de importantes princípios ético-morais, pode-se notar grandes revelações, pois
aquilo que muitas vezes é tido por ruim, por desagradável, diante de Deus é o
que realmente vai levar muitos à verdadeira felicidade. Esta passagem forma um
paradoxo, contrariando a ideia de muitos e mais uma vez mostrando que
"…'Deus não vê como o homem vê, o homem vê a aparência, mas Deus sonda o
coração" (I Samuel 16.7).
Felizes os pobres em espírito,
aqueles que não reconhecendo qualquer coisa em si mesmos, tem a consciência
plena de que nada possuem e que dependem exclusiva e totalmente de Deus. São
felizes porque conhecem uma nova sociedade, o Reino de Deus, este espaço não
geográfico onde as hierarquias e a lógica são invertidas; o menor é o maior, o
último é o primeiro, os pobres tem relevante importância, são incluídos e
passam a ter vez e prioridade no ministério do Jesus de Nazaré.
Eles são felizes porque possuem
“húmus” no espírito, são gente, seres humanos que valorizam a essência da vida
e não a conta bancária ou uma elevada posição social.
Os humildes de espírito são
aqueles que abraçam a todos, sem preconceito ou discriminação, sem nenhum senso
de superioridade. Aqueles que compreendem plenamente que “ter” não é tudo e que
“ser” é o bastante. Abrem mão de ter para ser e ser é estar na dependência de
Deus, pois quem ESTÁ em Cristo, nova criatura É.
Jesus é a expressão máxima da
humildade de espírito e nosso projeto deve ser o de viver como o Jesus de Nazaré.
Em Jesus somos felizes apesar
do choro ou até mais felizes quando choramos e quando preservamos a capacidade
de chorar. Felizes os que não perderam a capacidade de se emocionarem com a
vida, felizes os sensíveis que se comovem com as necessidades do outro, que não
se conformam com as injustiças, que lamentam profundamente as misérias que
afetam o nosso próximo.
Felizes os que choram porque
declaram que precisam de consolo, porque reconhecem o choro como virtude e
entendem que as lágrimas e a angústia significam sensibilidade para a vida.
Jesus é a expressão máxima da
sensibilidade plena que nos abraça com seu amor incondicional, graciosamente e
cheio de misericórdia por cada um de nós.
Muito felizes são os mansos,
aqueles sempre dispostos a pagar o mal com o bem, os que honram aos outros mais
que a si próprios, que abençoam aqueles que os perseguem, que não retribuem a
ninguém mal por mal, que nunca procuram vingar-se e sempre vencem o mal com o
bem (Romanos 12).
Felizes aqueles que tendo o
poder de gritar, decidem falar de forma amena e leve, aqueles que tendo o poder
do soco, decidem oferecer a face. Os mansos são felizes porque não possuem a
expectativa da violência, não são ameaça para ninguém e transitam livres em
toda hora e lugar.
Para os mansos o “pão é nosso”
porque o “Pai é nosso”. Os mansos herdam a terra para reparti-la.
Jesus é a expressão máxima de
mansidão e herda a terra para que nós também possamos herdá-la e possamos viver
o Reino do Cristo em plenitude.
Felizes os que sonham com a
justiça sem perder a misericórdia e que compreendem que a justiça não é
meramente para si, mas para com o outro, pois se importam com o próximo.
Os sedentos e famintos por
justiça são muito felizes porque sabem claramente que só há espaço para a justiça
aonde o coração humano encontra lugar para a paz.
Jesus é o único justo e a
expressão máxima de justiça.
Felizes, muito felizes os que
se solidarizam com a miséria e a dor do outro, que tem compaixão pelos que
sofrem, que colocam os seus corações na miséria do outro, felizes aqueles que
alimentam o amor sacrificial cheio de compaixão pelos necessitados, que
socializam o que o tem e quando não tem, socializam o sofrimento do próximo.
Jesus é a expressão máxima da
misericórdia, pois nos livra, nos anistia, nos perdoa do castigo que merecemos
e nos contempla com as suas infinitas misericórdias que se renovam
continuamente ao nascer de um novo dia.
Muito felizes, bem
aventurados, abençoados aqueles que não possuem na mente a visão da maldade e
que sempre enxergam o melhor do outro, felizes os que tem o coração de uma
criança, puros na essência, simples como os pássaros, mas cheios de
discernimento. Felizes aqueles que enxergam a vida com os olhos da alma e do
coração, cheios de pureza e que oram por um coração semelhante ao de Jesus, que
é a expressão máxima de pureza de coração e santidade plena.
Felizes todos aqueles que
visitados pelo Príncipe da paz, agregam paz e harmonia aos ambientes com a sua
presença, que entram numa zona de guerra e acalmam, harmonizam e constroem
ações promotoras da paz, felizes os que são elo para unir ao invés de separar,
os conciliadores, os pacificadores.
Jesus é a expressão máxima de
pacificação, cuja presença agrega tranquilidade, serenidade e águas calmas.
Jesus está no início do Sermão
do Monte descrevendo em cores nítidas o tipo de pessoa que é feliz e quando nos
identificamos com Jesus, podemos experimentar as virtudes desta felicidade
genuína, vivendo o Reino de Deus, revelando a presença do Rei entre nós e em
nós.
O que aprendemos com este
ensino precioso de Jesus?
Que podemos ser felizes,
independente ou apesar das circunstâncias e contingências da vida, tendo ou não
tendo, casado ou solteiro, com filhos ou sem filhos, em paz ou atravessando
desertos, com a vida em ordem ou passando dificuldades, pois a essência da
felicidade está na certeza de que Jesus é o Senhor das nossas vidas, que Ele se
importa conosco, cada um de nós individualmente, que Ele quer ter um
relacionamento intenso, íntimo e pessoal conosco, que Ele está no controle das
nossas vidas e que nos ama incondicionalmente, apesar de nós.
E o que Jesus espera de nós?
Que sejamos SAL e LUZ para
este mundo, que possamos fazer diferença neste mundo, que possamos mudar este
mundo para melhor, sendo como Ele é, que possamos dar continuidade ao seu
ministério na direção do nosso próximo.
Este mundo sistema tem ao
longo da história, produzido muitas vítimas, pessoas que nos perguntam “quem se
importa comigo?”.
Pessoas que gritam e dizem eu
estou com fome, não tenho onde morar, fui abandonado pela minha família, estou
numa maca de hospital, estou doente, com dor, sou um morador de rua, não vejo,
não ando, estou oprimido, angustiado, deprimido e perguntam “quem se importa comigo?”.
Ser sal e luz é compreender
que somos a resposta a esta pergunta difícil, é entender que precisamos atender
aos clamores destas vítimas, amar pessoas que ninguém ama, cuidar de pessoas
que ninguém cuida, pois quando vamos ao encontro destas vítimas, Jesus é
percebido em nós, revelado a partir de nós e assim o Pai é glorificado.
Ser sal e luz é acolher o
nosso próximo, pessoas que nem conhecemos direito, mas que podemos entrar na
sua história e fazer diferença na sua vida, agregar dignidade a vida destes
excluídos, destes que sofrem, destes marginalizados, fazendo com que Jesus seja
percebido, seja notado através de nós para que o Pai seja glorificado.
Podemos TER felicidade apesar
das circunstâncias, mas também podemos SER felicidade vivendo as bem-aventuranças
em favor de nós mesmos e do nosso próximo, para o nosso próprio bem e para o
bem do outro.
Quando vivemos este lindo e
precioso ensino e internalizamos esta maravilhosa e extraordinária mensagem do
Jesus Cristo de Nazaré, podemos sonhar com este estilo de vida que nos permite
entender e viver a felicidade genuína apesar e acima das circunstâncias.
Podemos ter um temperamento feliz em humildade de
espírito, com sensibilidade para com o nosso irmão que sofre, sendo manso e
paciente para aguardar tudo no tempo certo, no tempo de Deus e conforme a sua
vontade.
Podemos ter sentimentos felizes, vivendo em justiça
não se conformando com o que está errado, sendo misericordioso e colocando na
situação do próximo com compaixão pela miséria e a dor do nosso irmão que
sofre, clareando a vida a partir de um coração puro que não se deixa contaminar
e nem se corromper.
Podemos ter relacionamentos
felizes com um pacificador diante dos conflitos da vida, atenuando as atitudes
inflamadas pela discórdia, suportando as perseguições em amor, suportando as
injúrias confiando que isso nos assemelha a Jesus.
Podemos ser genuinamente
felizes exercendo na prática o ministério de JESUS, que acolhe o aflito de
alma, as crianças necessitadas, os idosos carentes de cuidados e de companhia, os
que clamam por socorro, podemos ser genuinamente felizes vivendo ativamente o
que nos ensina Jesus, pois este ensino é para o discípulo, para aqueles que decidiram
segui-Lo, imitando-o, refletindo o seu caráter para este mundo complicado,
pondo a mão na massa em favor do outro, pois a graça nada mais é do que o amor
em ação, a benignidade nada mais é que a bondade em ação em favor do nosso
próximo, pois o ministério do Jesus de Nazaré é palavra, mas de forma significativa
é também ação em favor das pessoas que são e sempre serão mais importantes que
as coisas.
Podemos ser genuinamente felizes
acima e apesar das circunstâncias e contingências da vida a partir da vida de
Jesus em nós.
Deus é bom o tempo todo.
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